Empréstimos

2024

Ilê Sartuzi

“PHYGITAL”
Centro Cultural PGE-RJ, Rio de Janeiro, RJ
14 de março a 13 de julho


“Vedetes”, 2017, máscara de látex, pedestal de microfone, ferro, servomotor, arduino, projetor, dimensões variáveis

“Vedetes”, 2017, máscara de látex, pedestal de microfone, ferro, servomotor, arduino, projetor, dimensões variáveis


Sobre a mostra:

O Centro Cultural da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro (PGE-RJ) já está preparando a nova exposição, “Phygital”, para ser inaugurada em meados de março. A nova mostra terá como tema o universo híbrido real x digital e as questões que surgem em consequência do uso cada vez mais intenso da tecnologia no nosso dia a dia.


2023

Arissana Pataxó

“Ah, eu amo as mulheres brasileiras”
Centro Cultural São Paulo, São Paulo, SP
08 de julho a 27 de agosto de 2023


"Meruka", 2007, mistura de técnicas na tela, 
70 x 50 cm.

“Meruka”, 2007, mistura de técnicas na tela,
70 x 50 cm.


Sobre a mostra:

“Ah, eu amo as mulheres brasileiras!” é uma exposição que reflete sobre a erotização atribuída mundialmente às mulheres brasileiras e tece críticas a esse estereótipo nocivo que incita a violência e a sexualização. 

A exibição com curadoria de Luiza Testa possui trabalhos que ilustram o preço psicológico e físico da incessante objetificação e desumanização dos corpos femininos brasileiros, principalmente das mulheres negras e indígenas, cenário que teve início no período da colonização, passando pelo turismo do século XX, até os discursos políticos de hoje. 

Através da arte contemporânea, fotografia, intervenções e vídeo-performances, as obras selecionadas mergulham nas desigualdades que as mulheres carregam na tentativa de transformar a dor coletiva em uma reafirmação de identidade e libertação comum. Essa abordagem é representada por meio dos trabalhos das seguintes artistas que integram a exposição: Arissana Pataxó, Berna Reale, Benedita Arcoverde, Brenda Nicole, Camilla D’Anunziata, Dalila Coelho, Juliana Manara, Lenora de Barros, Manuela Navas, Mari Nagem, Marta Neves, Micaela Cyrino, Milena Paulina, Raquel Pater, Santarosa Barreto, Terroristas del Amor, Vitória Cribb e Yacunã Tuxá.

Ficha técnica

Curadora: Luiza Testa | Produtora: Lorena Oliveira Vilela | Artistas: Arissana Pataxó, Berna Reale, Benedita Arcoverde, Brenda Nicole, Camilla D’Anunziata, Dalila Coelho, Juliana Manara, Lenora de Barros, Manuela Navas, Mari Nagem, Marta Neves, Micaela Cyrino, Milena Paulina, Raquel Pater, Santarosa Barreto, Terroristas del Amor, Vitória Cribb e Yacunã Tuxá.


Arjan Martins

“Um oceano para lavar as mãos”
Centro Cultural Sesc Quitandinha, Petrópolis, RJ
15 de abril a 15 de setembro de 2023


"Rio Setecentista", 2013, 
óleo e acrílica sobre tela, 
310 x 200 cm

“Rio Setecentista”, 2013, óleo e acrílica sobre tela,
310 x 200 cm
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"Sem título", 2018, acrílica sobre tela, 160 x 200 cm

Sem título, 2018, acrílica sobre tela,
160 x 200 cm
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"Estrangeiro I", 2017, 
acrílica sobre tela, 
60 x 80 cm

“Estrangeiro I”, 2017, acrílica sobre tela,
60 x 80 cm
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Sobre a mostra:

Os curadores Marcelo Campos e Filipe Graciano reuniram aproximadamente 40 obras dos artistas Aline Motta, Arjan Martins, Ayrson Heráclito, Azizi Cipriano, Cipriano, Juliana dos Santos, Lidia Lisbôa, Moisés Patrício, Nádia Taquary, Rosana Paulino, Thiago Costa e Tiago Sant’ana, que ocuparão um espaço monumental de 3.350 metros quadrados.

“Um oceano para lavar as mãos”, título retirado de um verso da música “Meia-noite” (1985), de Chico Buarque e Edu Lobo, se propõe a uma revisão da história do Brasil, pensada por curadores e artistas negros. A mostra busca ainda refletir sobre a cidade de Petrópolis, conhecida como “imperial”, e que tem uma forte memória negra. 

Marcelo Campos conta que em aulas, bibliografias e várias ações, há “importantes revisões históricas no Brasil, com a inclusão de autoras e autores negros”. Enquanto nos anos 1990 os afro-americanos já “iam direto na ferida”, observa, no Brasil as iniciativas eram isoladas. As políticas públicas dos últimos 20 anos, entretanto, com as cotas para estudantes negros, “em que a UERJ foi pioneira”, e a penetração das universidades no interior do país, como Cariri e Recôncavo Baiano, propiciaram a que os negros passassem a ter acesso às diversas áreas de conhecimento. “Esta pressão obrigou a academia e os espaços de arte a se modificarem”. 

Ele diz que passou a observar “o modo como os artistas negros lidam com o período das navegações”. “Este trauma, esta tragédia de nossa sociedade, exibidos nas documentações de maneira normalizada, com ilustrações de grilhões, correntes. Junto com os artistas, pensamos em como lidar com isso”, diz. “De que modo a arte lida com o imaginário do trauma da escravidão, da diáspora”. Ele menciona as pesquisas feitas pelo sociólogo inglês Paul Gilroy, estudioso da diáspora negra, e autor do livro “Atlântico negro” (1993), tema presente nos trabalhos, e lembra que a artista Rosana Paulino, em conjunto de trabalhos de 2016, chamou de “Atlântico vermelho”, em alusão a Gilroy, evocando a violência da escravidão e seus desdobramentos até os dias de hoje.

Dos doze artistas convidados, seis foram comissionados para criarem trabalhos especialmente para a exposição: Azizi Cypriano, Juliana dos Santos, Moisés Patrício, Pedro Cipriano, Thiago Costa e Tiago Sant’ana.

Filipe Graciano, arquiteto e urbanista, idealizador do Museu de Memória Negra, de Petrópolis, e coordenador de Promoção da Igualdade Racial do Município, conta que a expografia vai salientar a ideia de encontros contida nos múltiplos significados que a palavra oceano traz. “A monumentalidade do espaço do Centro Cultural Sesc Quitandinha vai ao encontro da monumentalidade da existência negra no Brasil”, observa.  Graciano assinala a importância do olhar curatorial negro, com artistas negros, para contar “outra história, que não a única no Brasil”. “A potencialidade das mãos, de lavar a história”. “A exposição é quase um ato de reparação histórica”, afirma, observando que o trabalho educativo dará uma contribuição para “repensar a memória da cidade”. 


2022

Jaime Lauriano

“The Social Fabric: Art and Activism in Contemporary Brazil”
Visual Arts Center, Austin, Texas, EUA
22 de setembro de 2022 a 10 de março de 2023


“Bandeirantes #1” e “Bandeirantes #2”, 2019, miniatura de monumento em homenagem aos bandeirantes fundida em latão e cartucho de munições utilizadas pela Polícia Militar e Forças Armada Brasileiras sobre base construída em taipa e pilão. Edição: 3 + 1 P.A. (2/3). “Bandeirantes #1”: 48 x 20 x 20 cm (base) e 22 x 20 x 20 cm (miniatura); “Bandeirantes #2”: 48 x 20 x 20 cm (base) e 37,5 x 20 x 20 cm (miniatura)

“Bandeirantes #1” e “Bandeirantes #2”, 2019, miniatura de monumento em homenagem aos bandeirantes fundida em latão e cartucho de munições utilizadas pela Polícia Militar e Forças Armada Brasileiras sobre base construída em taipa e pilão.


O Centro de Artes Visuais da Universidade do Texas em Austin apresenta Social Fabric: Art and Activism in Contemporary Brazil (Tecido social: arte e ativismo no Brasil contemporâneo). A mostra reúne a obra de 10 artistas do Brasil que refletem sobre as persistentes histórias das estruturas de poder no Brasil

Organizada por Adele Nelson, professora assistente de História da Arte na Universidade do Texas em Austin, MacKenzie Stevens, diretora do Centro de Artes Visuais e María Emilia Fernández, curadora assistente, Tecido Social apresenta artistas que veem a arte como uma plataforma para o engajamento crítico com configurações históricas, políticas e culturais de determinado lugar, contribuindo para conversas tanto locais quanto globais sobre a conjuntura democrática, recusando-se a manter a neutralidade e iluminando histórias de opressão sancionada pelo Estado e de desigualdade permanente. Artistas participantes de Social Fabric oferecem diferentes abordagens de ativismo, forjando caminhos rumo à justiça e à cura.

A exposição engloba uma ampla gama de mídias, incluindo instalação, pintura, performance, fotografia, escultura e vídeo, e apresenta mais de 60 obras de arte, muitas delas recentemente comissionadas. A exposição pode ser visitada até dia 10 de março de 2023. Depois será exibida no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP), Brasil.

Artistas: Aline Motta, Antonio Obá, Castiel Vitorino Brasileiro, Denilson Baniwa, Guerreiro do Divino Amor, Jaime Lauriano, Lais Myrrha, Maré de Matos, Rosana Paulino, Sallisa Rosa


2020

Barbara Wagner

“HISTÓRIAS DA DANÇA”
MASP, Rio de Janeiro, RJ
25 de junho de 2020 a 5 de novembro de 2020


Faz que vai”, 2015, Vídeoinstalação em 2K, HD, cor, som 5.1, 16:9, 12’.


Histórias da dança é uma exposição coletiva que estava prevista para acontecer entre 25 de junho e 5 de novembro de 2020 no MASP. Devido à pandemia global de Covid-19, a exposição – que teria reunido mais de 250 obras de 160 artistas, coreógrafos e performers de diferentes períodos, geografias e tipologias – foi cancelada devido a cortes orçamentários, complicações logísticas e relativas às viagens internacionais. Este site apresenta um registro muito parcial do que teria sido a exposição, com uma seleção de obras dividida em núcleos e versões abreviadas dos respectivos ensaios. Os textos completos, bem como uma lista completa dos trabalhos, podem ser encontrados no catálogo editado por Adriano Pedrosa, Julia Bryan-Wilson e Olivia Ardui.

Mais do que propor uma narrativa cronológica sobre a história da dança, ou ainda um percurso exaustivo sobre as relações entre dança e artes visuais, a exposição Histórias da dança propõe uma reflexão sobre políticas do corpo em movimento. Exposições anteriores investigaram momentos históricos em que dançarinos e artistas colaboraram intimamente, como foi o caso dos Ballets Russes ou da Judson Dance Theater. Esta exposição estrutura-se em torno de termos chave no pensamento de dança — improvisação, tensão, composição, gravidade, entre outros —, pensados desde uma perspectiva ampla de como os corpos se relacionam e se movem no espaço e no tempo.

Abordando a dança em sua acepção mais ampla de movimento socialmente construído e codificado, Histórias da dança inclui gestos não necessariamente associados à dança: expressões transgressoras de sujeitos marginalizados, locomoção coordenada e disciplinada, gestos insurgentes e a ocupação subversiva do espaço público. A exposição contempla também vídeos de protesto ou danças de rua que viralizaram nas redes sociais ou plataformas como o Youtube. Além disso, o projeto também realça a importância da arte cinética latino-americana e da arte neoconcreta brasileira no centro desses debates, investigando as implicações políticas de movimentos coletivos.

De materiais arqueológicos pré-colombianos, passando pelo ritmo de telas abstratas do começo do século 20, até protestos coreografados contemporâneos, Histórias da dança celebra o potencial da dança de expressar a alegria e o desejo físico — e também a ira coletiva — diante da opressão e da crise. Embora as representações históricas de dança puderam muitas vezes apresentar imagens exotizadas de Outros, esta mostra enfatiza a autoinvenção e a reivindicação assertiva de territórios por parte de corpos negros e indígenas que se movimentam conjuntamente no espaço. Além disso, Histórias da dança ressalta a contribuição das mulheres, com especial atenção para perspectivas feministas e queer – desde o luto das mulheres chilenas pelos desaparecidos no regime Pinochet na dança-protesto cueca sola, passando pelo trabalho pioneiro de dançarinas como a brasileira Analivia Cordeiro ou ainda a afro-americana Josephine Baker (1906-1975). Ao evidenciar a maneira como os corpos se movem juntos dentro de contextos políticos, históricos e econômicos específicos, a exposição apresenta a dança como forma de resistência exuberante.

De fundamental importância para a mostra, está um espaço aberto, uma arena, comissionado para a artista Carla Chaim, onde aconteceria um intenso programa de performances, apresentações, ensaios e oficinas no segundo subsolo do MASP. A presença de corpos em movimento no cerne da exposição nos permite questionar criticamente as possibilidades, os diálogos e as fissuras que podem surgir quando a dança adentra o museu.

CURADORIA Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP; Julia Bryan-Wilson, curadora-adjunta de arte moderna e contemporânea, MASP; Olivia Ardui, curadora-assistente, MASP.


2019

André Griffo

“21ª Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil | Comunidades imaginadas”
Galpão VB, São Paulo, SP
9 de outubro de 2019 a 2 de fevereiro de 2020


O Golpe, a prisão e outras manobras incompatíveis com a democrácia”, 2018, óleo sobre tela, 146,5 x 113 cm.


ANDRÉ GRIFFO (Brasil, 1979) é artista e formou-se em arquitetura e urbanismo pela Universidade Santa Úrsula (2004) e dedica-se integralmente às artes desde 2009. Trabalha com pintura, instalação e desenho, explorando fissuras na trama que constitui a sociedade brasileira. Para isso, mobiliza com frequência referências históricas e iconográficas do passado recente e remoto do país. Dentre as exposições individuais, destacam-se Objetos sobre Arquitetura Gasta, Centro Cultural São Paulo (2017); Intervenções Pendentes em Estruturas Mistas, Palácio das Artes, Belo Horizonte (2015); e Commando, pelo edital de ocupação da Galeria de Arte Fernanda Perracini Milani, Prefeitura de Jundiaí, São Paulo (2015). Exposições coletivas incluem Ao Amor do Público I – Doações da ArtRio (2012–2015); MinC/Funarte, MAR, Rio de Janeiro, (2014); e Instabilidade Estáve, Paço das Artes, São Paulo (2014). Na 21ª Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, o artista apresentou três pinturas:

O GOLPE, A PRISÃO E OUTRAS MANOBRAS INCOMPATÍVEIS COM A DEMOCRACIA (2018) A obra figura o momento do discurso do ex-presidente Lula antes de sua prisão, em 2018, no palanque montado no pátio do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na cidade de São Bernardo do Campo, espaço emblemático das lutas pelo retorno da democracia no Brasil ao final do regime militar. Enquadrada por um televisor, a imagem coloca em evidência as instâncias de mediação entre o público e o acontecimento político tematizado. Assim, a pintura mobiliza o gênero histórico em tempos de fake news, de conflitos narrativos, e de disputa por hegemonia entre redes de mídia social e veículos tradicionais de telecomunicação.

PERCORRER TEMPOS E VER AS MESMAS COISAS (2017) As imagens presentes no trabalho fazem parte de pesquisa iconográfica realizada pelo artista acerca dos períodos colonial e imperial brasileiros em fotografias, pinturas, desenhos e registros arquitetônicos. Os personagens dessas imagens – o patriarca, a esposa, os filhos, os escravos, o filho bastardo, os representantes da igreja e os políticos – são referências para narrativas que, além de expor a estrutura social do Brasil no passado, iluminam as desigualdades sociais do presente e testemunham a imutabilidade do estado de coisas no país. A obra é parte da série de título homônimo.

UMA COR PARA CADA ERRO COMETIDO (2017) A obra integra a série Percorrer Tempos e Ver as Mesmas Coisas, na qual o artista parte de pesquisa iconográfica acerca do Brasil Colônia e Império, investigando a fotografia, a arquitetura e as artes desse momento histórico, levando para ambientes privados o imaginário de uma casa-grande decadente, porém permanente. Explora, assim, a resiliência viciosa de uma estrutura social que sobrevive à evolução histórica.


2018

Arjan Martins

“FRATURA”
Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP
15 de março de 2018 a 6 de maio de 2018


"Rio Setecentista", 2013, 
óleo e acrílica sobre tela, 
310 x 200 cm

“Rio Setecentista”, 2013, óleo e acrílica sobre tela,
310 x 200 cm
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A exposição “FRATURA” propõe, a partir das obras de Adriano Costa, Arjan Martins e Juliana Cerqueira Leite, o questionamento das urgências do tempo presente e seu apego à própria descartabilidade.

Em suas obras, o paulistano Adriano Costa lança mão de objetos e imagens banais, hoje produzidos, consumidos e supostamente esquecidos, para, como aponta a curadoria, recombiná-los até a lógica dos produtos fraturar o fazer artístico e vice-versa.


André Griffo

“Com o ar pesado demais pra respirar”
Galeria Athena, São Paulo, SP
20 de março de 2018 a 24 de Novembro de 2018


O Golpe, a prisão e outras manobras incompatíveis com a democrácia”, 2018, óleo sobre tela, 146,5 x 113 cm.


Galeria Athena tem o prazer de apresentar a mostra coletiva Com o ar pesado demais para respirar, com curadoria de Lisette Lagnado.

André Griffo | Anna Bella Geiger | Antonio Dias | Antonio Manuel | Artur Barrio | Débora Bolsoni | Franz Weissmann | Frederico Filippi | Hélio Melo | Igor Vidor | Iole de Freitas | Iza Tarasewicz | Joana Cesar | Lais Myrrha | Laura Belém | Leonilson | Leticia Parente | Matheus Rocha Pitta | Raquel Versieux | Rodrigo Bivar | Rubens Gerchman | Vanderlei Lopes | Yuri Firmeza

E agora?

Às vésperas de eleições para presidentx, os “padrões de convívio humano” do “homem cordial” encontram a sociedade brasileira atravessada por discursos de ódio. Assentada na crença de um país tropical e miscigenado, a teoria social (1936) do Brasil pós-colonial de Sergio Buarque de Holanda, desabou diante das atuais taxas de violência e homicídios contra populações jovens e pobres (trans, negras e indígenas). Os assassinatos da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes completam mais de seis meses sem que a justiça tenha apontado os responsáveis.

Interessa saber como essa consciência se traduz na produção de linguagem artística. Nos últimos meses, multiplicaram-se as exposições temáticas discutindo o atual retrocesso democrático, comparando o presente momento com o golpe militar de 1964 e seu endurecimento a partir do decreto do AI-5, em 1968.

A mostra “Com o ar pesado demais pra respirar” procura dar um depoimento sobre a atmosfera de um momento generalizado de rara angústia. A partir do convite de uma galeria inaugurando um novo espaço na zona sul do Rio de Janeiro (estado sob intervenção federal na segurança pública desde o início do ano), perguntei a cada artista representado como o noticiário tem atingido seu cotidiano, sua forma de pensamento e de ação. Recebi relatos desencontrados, variando da pane de expressão, do niilismo, à falta de concentração. Afinal, os artistas da Athena Contemporânea viveram sua maioridade durante o período em que o país teve um governo de esquerda que assumiu como programa a redução da miséria e da fome. E agora?

O título da exposição foi inspirado numa obra de Frederico Filippi, composta por chapas de aço galvanizadas cobertas por tinta preta, misturas de substâncias como óleo, carvão, spray e pedaços de papel cobrindo inscrições arranhadas. Dada sua formação em aviação, o artista extraiu desse repertório o termo “estol”, que designa a perda de sustentação do avião, o momento em que “sufoca”: “sobe, sobe, sobe, até que não pode mais e começa a descer e involuntariamente abaixa o nariz”, explicou-me. O trabalho remete a resíduos de civilizações e ecoa aqui como uma manifestação pungente do incêndio que destruiu o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista (RJ).

Para estabelecer pontos de convergência com os anos 1960-70, a manipulação de imagens e manchetes de jornais verificou ser um dos procedimentos mais evidentes e a figuração pop de Rubens Gerchman não poderia ficar ausente. Apesar das décadas que separam os Flans de Antonio Manuel, o conteúdo ideológico da mídia impressa é um material irresistível entre os artistas que assistiram, em tempo real, às cenas dos capítulos que levaram à prisão do ex-presidente Lula. Apoiado na prática da pintura, André Griffo testemunha a onipresença do noticiário no cotidiano das pessoas, da televisão ao jornal. [O Golpe, a prisão e outras manobras incompatíveis com a democracia (2018)].

A construtividade de Volpi impregna o imaginário de artistas que educaram seu olhar nas festas populares – a ponto de encontrarmos nas colagens de Lais Myrrha formas de velamento para tratar de “problemas de fundo”. A palavra “fundo” remete tanto à composição como ao caráter da classe política. Sua série de colagens não somente reescreve a crise política vivida no país propondo um processo de cura [Reparação de danos] mas nos permite politizar a guinada estética do pintor Rodrigo Bivar. A crise, para esse artista, teve um desfecho radical quando suas pinturas se tornaram abstratas: “Em 2016, as figuras sumiram. Não houve transição, foi abrupto. Pintar gente branca na praia parecia um passatempo burguês.”

Emblemática na exposição, encontra-se uma das Trouxas ensanguentadas (1970) de Artur Barrio, quando realizou uma situação no espaço público, simulando corpos jogados em terrenos baldios pela ditadura militar. Existe uma correspondência com as fotografias da série Brasil (2013), de Matheus Rocha Pitta, em que pedaços de carne são misturados à terra vermelha de Brasília, retomando o significado da palavra “brasil” como “lugar de brasas”. Pitta ainda exibe imagens da série Galeria dos vencedores (2018), desdobramento de uma cartografia de gestos de sobrevivência e do trabalho realizado a partir da frase de Machado de Assis, “Ao vencedor as batatas”.

A história da entrega de um milhão de hectares da Amazônia para a produção de látex necessária à indústria automobilística de Henry Ford, no final dos anos 1920, resultou no transplante artificial de uma cidade nos moldes estadunidense, às margens do rio Tapajós. A atual pesquisa de Yuri Firmeza sobre as ruinas de Fordlândia é mostrada ao lado de uma pequena pintura de Hélio Melo, autodidata, seringueiro e ativista, que se dedicou a denunciar o processo de dilapidação dos recursos naturais da floresta. A questão dos povos originários é o assunto do vídeo que realizou com Igor Vidor, Brô MC’s, nome do primeiro grupo indígena de rap no Brasil (Aldeia Jaguapirú Bororó, Dourados, MS). Esses cantos buscam divulgar suas lutas, misturando os idiomas guarani e português.

Uma linha transversal aproxima as esculturas recentes de Vanderlei Lopes [Projeto (tentativa e erro)], que aludem a papéis enrugados, com os bordados geométricos de Leonilson. Um empresta valor ao outro. O Neoconcretismo continua operando na produção contemporânea, mas suas referências migraram de sentido. Assim como Vanderlei Lopes olhou Leonilson, este por sua vez olhava Franz Weissmann. Foi importante trazer aqui os golpes sobre o plano da série Amassados (1967), de Weissmann para acrescentar uma descarga de violência à tendência à sublimação que marcou os anos 1990.

O terceiro tópico desenvolvido na exposição é o de “corpo vivido”, que percorre as obras de Raquel Versieux (com um trocadilho cômico-tenso entre “erosão/ereção”) e de Joana César. Na prática dessa última, a produção foi se avolumando dentro do quarto e precisou sair para as ruas. De certo modo, distúrbios mentais continuam rondando tanto seus desenhos que “nascem da barriga”, feitos com o ar quente de um secador de cabelo dirigido sobre gotas de tinta, como retratos videográficos dela roendo as unhas para arrancar de si um estereotipo feminino. A visceralidade de processos psíquicos subjetivos é um procedimento conhecido nas gravuras de Anna Bella Geiger do final dos anos 1960 e no vídeo magistral de Letícia Parente, Marca Registrada (1975), em que a artista costura na planta dos pés a expressão “Made in Brasil”. De Iole de Freitas, uma sequência fotográfica (stills extraídos de um filme experimental) capta a luz que penetra na intimidade da casa, marcando a transição do corpo visceral para um corpo estruturante.

Preferiria não, de Débora Bolsoni, explora um caminho construtivo ao trazer o conteúdo gráfico de resistência da vanguarda russa, e nos lembra que o personagem de Herman Melville (Barthelby) não encontrou saída para seu destino a não ser permanecer íntegro. Única artista não brasileira do grupo da Athena, Iza Tarasewicz foi incluída nesse certame porque vem elaborando esculturas abstratas a partir de combinações algorítmicas de jogadas de xadrez. A movimentação estratégica que rege um jogo de guerra engendra uma trama de nós que a artista resgata de práticas artesanais na confecção de tapetes.

Pairando na arquitetura da galeria (área externa e área interna), Laura Belém resgata o cinquentenário do filme Desesperato (1968), de Sergio Bernardes, que trouxe às telas os dilemas de um intelectual dividido entre sua sobrevivência pessoal e a tomada de decisão na esfera coletiva (a guerrilha). Seu adesivo “Cinema mudo” alude ao filme que foi censurado na época, mas também simboliza o estado de abandono da educação e da cultura.

Percebe-se, finalmente, que os conflitos políticos não configuram imperativos explícitos para todos os artistas. Ainda está para ser escrita a história da produção artística do Brasil sob o golpe parlamentar e midiático que orquestrou a deposição da Presidenta Dilma Rousseff. Para além de qualquer empatia e solidariedade com aqueles que estão desaparecendo, a descrição da derrocada das instituições culturais funciona como alegoria para retratar a trágica falta de expectativas que o país precisa reverter. Nesse sentido, uma tela preta do recém-falecido Antonio Dias, The Secret Life (1970), permite imaginar a complexidade de ser simultaneamente um artista e um sujeito político em períodos conturbados.