Rio de Janeiro, RJ, 1980. – Vive e trabalha em Santiago, Chile.
Indicada ao PIPA em 2010, 2011 e 2012.
Finalista do PIPA 2016.
Luiza Baldan é doutoranda e mestre em Linguagens Visuais pela UFRJ (Rio de Janeiro, RJ) e bacharel em Artes Visuais pela Florida International University (Miami, EUA). A artista investiga dinâmicas urbanas que se estabelecem entre o homem e a arquitetura, a memória e a cidade. Suas imagens e textos resultam da inter-relação com o entorno, numa espécie de performance dilatada pelos lugares onde reside e por onde passa. A imersão é parte fundamental da pesquisa, como ocorre nas residências e nos projetos de longa duração envolvendo viagens e deslocamentos periódicos a locais revisitados.
Dentre as residências aparecem os icônicos edifícios “Copan”, em São Paulo, e “Pedregulho”, no Rio de Janeiro, além de outros endereços pertencentes ao imaginário coletivo. Dentre os projetos em andamento ou recém-concluídos estão a série fotográfica “Leituras de um lugar valioso”, realizada no Chile desde 2012; “Perabé”, desenvolvido ao longo de travessias entre a cidade de São Paulo e a Baixada Santista (2014-2015); e “Vórtice”, pelas águas da Baía de Guanabara, previsto para conclusão no segundo semestre de 2016.
Das exposições recentes destacam-se as individuais “Entre Lugares”, CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais (Belo Horizonte, MG, 2016); “Perabé”, Centro Cultural São Paulo (SP, 2015); e “Build Up”, MdM Gallery (Paris, França, 2014); e as coletivas “Vértice: Coleção Sérgio Carvalho”, Museu Correios (Brasília, GF: Rio de Janeiro, RJ e São Paulo, SP, 2015-2016); e “Cruzamentos: Contemporary Art in Brazil”, The Wexner Center for the Arts (Columbus, EUA, 2014).
PIPA de perto
PIPA de perto: a artista fala na coleção do Instituto
“Perabé”, 2014-2015, videoinstalação HD, p/b, áudio em 4 canais, 31’10”
“Das mais de trinta casas onde morei ao longo da vida, a do Copan, em São Paulo, foi a primeira distante do litoral. Um dia escutei que era possível ver o mar sem sair da cidade, em alguma parte ao sul, depois de Parelheiros. Por mais absurdo que pudesse soar, o relato despertou o interesse por encontrar uma paisagem quase fictícia. Assim iniciei o projeto Perabé em dezembro de 2014.
O que a princípio se tratava apenas de encontrar um mirante em São Paulo, se transformou num projeto de travessias, de atravessar a paisagem até chegar à Baixada Santista. Em viagens periódicas ao longo de 10 meses, percorri diferentes caminhos que pudessem conectar a capital paulista ao litoral, coletando as impressões em fotografias e textos. Partindo da Serra da Cantareira, deixei-me guiar por personagens, mitos, histórias e acasos, até chegar ao bairro de Marapé (antigo Perabé), em Santos, que em tupi significa ‘caminho do mar’”. – Luiza Baldan
Textos Críticos
CONVERSA COM LUIZA BALDAN, POR LUIZ CAMILLO OSORIO
Agosto de 2016
1 – Luiza, queria saber um pouco da sua formação. Ela se deu na área de fotografia? Fale um pouco sobre o seu processo de inserção no meio de arte – foi via salões, galeria, exposições coletivas?
Mesmo tendo passado por 8 instituições diferentes entre o ensino médio e o fundamental, o contato com teoria ou prática artística nunca foi estimulado, com exceção das aulas de literatura, eu diria. Com 17 anos fiz vestibular para ciências sociais na UERJ porque queria ser antropóloga visual. Na época estagiei na TV Comunitária e em um jornal sobre dança. Depois de 1 ano e meio totalmente desestimulada, em uma universidade que eu detestava, aceitei o convite do meu irmão para estudar em Miami. Fiz aulas em diversas áreas, concentrando inicialmente na literatura, mas finalmente me graduando em artes visuais (com concentração em fotografia e time-based media, e especialização em história da arte). Em paralelo eu trabalhava em um laboratório de foto e em um museu. Depois me mudei para Barcelona e comecei a trabalhar também para galerias de arte. As primeiras exposições que participei ou trabalhei, além do contato com outros artistas, se deram fora do Brasil. Eu voltei pro Rio em 2005, inicialmente trabalhando para uma galeria de arte e como produtora cultural, e só entrei timidamente no circuito como artista em 2007. Participei de alguns salões e editais até ingressar no mestrado na EBA/UFRJ em 2008, quando comecei a dedicar tempo integral à minha pesquisa como artista e como professora. Em outubro dividirei um curso sobre Antropologia e Arte com a Barbara Copque, na Casa França Brasil, então vejo que os caminhos acabaram se cruzando de alguma forma, e que, aos 17, eu não estava tão perdida quanto pensava.
2 – Sua relação com a arquitetura é recorrente, especialmente com o Reidy. Às vezes vendo sua relação com a arquitetura, vejo que seu interesse vem dos vestígios do habitar, da presença que inscreve um lugar. Outras vezes, acho que seu interesse é o vazio, aquilo que sobra ou escapa da arquitetura, da construção. Esta impressão faz sentido? Elas são incompatíveis? De onde vem este interesse pela arquitetura?
Comecei a investigar sobre essas questões no mestrado. A minha dissertação foi intitulada “Lugares que habitam lugares”, na qual relacionei os espaços/ambiências/arquiteturas vivenciados na infância como propulsores imagéticos para o meu trabalho. No projeto recente Perabé (que estará na exposição no MAM) começo o texto com uma frase inspirada em Benjamin e Calvino, “uma cidade ajuda a ler outra cidade”. Como desde pequena me mudei muito de casas e cidades, a maneira de me familiarizar com os lugares desconhecidos sempre se deu por associação. Da mesma forma ocorre ao regressar, já que na maioria das vezes os lugares ficam e as pessoas passam. A arquitetura representa essa estrutura que permanece, que abriga, que armazena tempo e história, e que é cenário para divagações, questionamentos, delírios, conflitos etc. Grande parte do trabalho vem da observação das combinações entre o espaço e as coisas, entre o som e a luz ambiente, tal qual foram encontrados. Não me interessa forjar uma cena para que seja interessante como imagem. O trabalho é a consequência da minha experiência naquele tempo em contato com aquele lugar.
3 – A natureza também tem um papel nos seus trabalhos. Aí, minha impressão é que você tem uma relação mais cerimoniosa, ela entra no seu trabalho como que pedindo licença. Não há qualquer exuberância, ela é contida, às vezes como em De murundus e fronteiras ela é o que sobra da cidade, é ruína e catástrofe iminente, ao mesmo tempo em que carrega algum mistério. Há um lugar, uma pergunta pela natureza no seu trabalho?
A natureza me faz questionar as relações humanas, incluindo o eu e o outro. O que eu disse antes sobre a arquitetura também se aplica à natureza. Mas essa cerimônia a que você se refere eu diria que é um respeito maior, profundo. A natureza é o que resiste apesar de tudo. É o ancestral, o oráculo, o incontestável, o incontrolável, a experiência de máximo silêncio, de maravilhamento… Meus projetos mais imersivos e de longa duração são os que lidam diretamente com atravessar paisagens, com a experiência de questionar, calar e ouvir, de sentir-se pleno e insignificante ao mesmo tempo. Nas situações urbanas, sinto que a nossa escala humana, quando não está normatizada, busca estar insistentemente, o que é exaustivo e pode ser bastante previsível.
4 – A modernidade que aparece em suas fotografias é um retrato na parede, ou seja, é passado. Sua atenção em relação ao mundo é moderna, ela separa mais que mistura as coisas. Qual o futuro da modernidade no Brasil de hoje?
A meu ver, o trabalho destaca e aproxima ao mesmo tempo. Lembro com carinho do papel da fotografia no meu projeto no Pedregulho (2009): da curiosidade dos vizinhos no ato de fotografar e o contentamento ao receber as imagens feitas tanto por mim quanto por eles; do reconhecimento e da valorização daquela arquitetura moderna por intermédio da fotografia. Um trabalho que demanda estar e conviver, pode começar separado, mas não termina sem se misturar. A fotografia pode manter um distanciamento em seus aspectos formais, mas ela é contaminada por aquela experiência, o que fica mais claro nos textos, nos quais relatos e fabulações se confundem em primeira pessoa. O projeto moderno de moradia, mesmo sendo patrimônio e monumento, também foi contaminado e teve que se adaptar aos hábitos e necessidades de seus habitantes ao longo dos anos. É uma relação viva.
5 – Qual o lugar da poesia na sua obra?
A poesia é o que me permite trabalhar com bases sólidas e demasiadamente reais. Meus pretextos para começar um projeto são calcados em história, geografia, arquitetura e urbanismo. A poesia é a evasão, é o que me permite fabular, é o que escapa e o que transforma.
6 – Se você tivesse que escolher um artista e um músico para estarem juntos da sua obra em uma exposição quem seria?
Penso em vários… Poderia fazer uma curadoria rs. Thiago Rocha Pitta e Dorival Caymmi; Gisele Camargo e Caetano Veloso; Maria Laet e Juçara Marçal; Marcos Chaves e Tom Zé. Por aí vai.
*Luiz Camillo Osorio é curador do Instituto PIPA, conselheiro e um dos idealizadores do Prêmio. É professor e atual diretor do Departamento de Filosofia da PUC-Rio. Foi curador do MAM-Rio entre 2009 e 2015.
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