VEJA COMO FOI A ABERTURA DAS EXPOSIÇÕES DO INSTITUTO E DO PRÊMIO PIPA 2023

Local: Paço Imperial – Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Data: 09/09 a 12/11

No último sábado, dia 9 de setembro, ocorreu a abertura das exposições Artistas Premiados do PIPA 2023: Glicéria TupinambáHelô SanvoyIagor Peres e Luana Vitra e Aquisições Recentes do Instituto PIPA no Paço Imperial do Rio de Janeiro, ambas em cartaz até 12 de novembro.

A mostra dos Premiados é uma celebração da escolha dos quatro como vencedores da edição de 2023 do PIPA, uma vez que, desde 2020, a exposição do Prêmio não tem caráter competitivo. Os quatro artistas dividem o espaço Terreiro com obras justapostas, posicionadas de forma a evidenciar as permeabilidades possíveis e aumentando sua potência como conjunto. Sem uma expografia rígida, eles criaram juntos um espaço de forma livre e fluida, resultando em uma exposição escrita a várias mãos.

Segundo Luiz Camillo Osorio, curador do Instituto PIPA, “os quatro artistas premiados explicitam a força plástica extraída de corpos dissidentes e suas lutas cotidianas. Mais do que a conquista de visibilidade, eles preenchem de sentido as lacunas que antes haviam. Sintomaticamente, a presença da dança, do corpo e da performance perpassa as quatro poéticas”.

Às 15h de sábado, como parte da programação da abertura, Helô Sanvoy realizou na sala Praça dos Arcos, do Paço Imperial, sua performance “Empelo”. O título remete a estar “nu em pelo”, nudez que é adotada durante a ação, na qual o artista, após fazer uma extensão de seu cabelo com tranças de couro (material entendido por ele como ser vivo), posiciona as tranças em um gancho na parede e estica seu corpo, de modo a tentar sustentar-se a partir do cabelo, com os pés posicionados em um pequeno apoio de madeira. Nas tentativas de alcançar a posição pretendida e de sustentar seu corpo, Helô emprega grande força enquanto seu cabelo é puxado, gerando tensão e desconforto no público por conta da dor que vê o artista sentir, sem poder apaziguá-la. É ainda mais simbólico que esta performance tenha sido realizada em um local com grandes cicatrizes históricas da violência exercida à população negra, escravizada.



Em seguida, Camillo realizou uma visita guiada nas duas mostras. No Terreirinho, Lucrécia Vinhaes, fundadora do Instituto PIPA, compartilhou um pouco sobre a história e os objetivos do Instituto e do Prêmio, e Camillo trouxe um panorama das obras selecionadas, destacando os diversos Brasis representados em suportes, técnicas e abordagens variadas. São trabalhos de artistas contemporâneos brasileiros que fazem parte da história do Prêmio PIPA: Agrade CamízGuilherme BretasElias MarosoMaxwell AlexandreUÝRA e Xadalu Tupã Jekupé. A visita contou, ainda, com a presença de Guilherme Bretas, que falou ao público sobre sua obra “Nossa Pele Reluz como Ouro”, uma animação por inteligência artificial com DeepFake de retratos históricos tirados no século XIX. O artista explicou como a tecnologia possibilita dar vida a imagens estáticas, de modo a humanizar as pessoas que foram fotografadas sob uma visão racista como parte da série “Tipos Negros”, feita pelo alemão Alberto Henschel na década de 1860. O movimento aproxima quem olha da pessoa retratada, e ainda funciona como uma resistência à postura estática exigida ao capturar o outro.

Na sala Terreiro, ao lado de Camillo e Lucrécia, ainda esteva presente Ana Avelar, membro do Conselho do Prêmio, que comentou sobre o cenário de arte atualmente e sobre a importância do PIPA como apoio a este cenário e aos artistas. Em seguida, pudemos ouvir Glicéria Tupinambá abordar sua trajetória de viagens ao exterior, que culminou no retorno de um Manto Tupinambá da Suíça. Uma das obras expostas representa justamente o fluxo de pensamento da artista em relação aos processos e às pesquisas envolvidas na recuperação da técnica da feitura do manto, e também no rastreio histórico do percurso dos mantos, que passaram por diversas monarquias europeias. Outro trabalho, uma espécie de rede vermelha que se extende do alto da parede até o chão, com fios espalhados, é a estrutura do manto, os nós envolvidos em sua criação. Glicéria ressalta o caráter coletivo deste, cuja realização se dá em comunidade, com a participação das crianças, dos pássaros, do cosmo e dos sonhos, logo a comunidade que assina o manto, uma vez que a artista se considera apenas a mão que possibilita o manto existir. Ao falar com o público, a artista ainda ressaltou a luta dos povos indígenas por sobrevivência, e a importância desses povos para a preservação ambiental.

Em sua fala, Helô Sanvoy abordou diversas obras, em suportes variados, de sua pesquisa sobre o Pau-brasil. No trabalho “Não desce pela garganta”, três forcas localizadas em áreas diferentes do espaço traziam, entalhado em um pedaço dessa madeira, dados de violência no país: contra jovens negros, mulheres e pessoas trans. Outra obra tem como base a carne seca, formando uma gamela-receptáculo, dentro da qual materiais que fizeram parte dos principais Ciclos Econômicos do Brasil estão reunidos: Ciclo do pau-brasil; Ciclo da cana-de-açúcar; Ciclo do ouro; Ciclo do algodão; Ciclo do café; e Ciclo da borracha. Entre as demais obras, está uma abordagem etimológica da palavra “brasileiro”, ligada ao processo de extração da madeira, e um registro fotográfico da performance “Empelo”, a mesma que foi realizada na abertura.

Luana Vitra apresentou trabalhos da série “Fio desencapado, isca de confusão”, nos quais são empregados materiais como ferro, anzol, lacre e corda, e incorporadas palavras em diversas línguas. Além disso, a artista ainda trouxe flechas-lanças, que formavam, com as outras obras, um espaço em consonância, construído reverberando a mesma poética. É possível observar no conjunto algumas questões que perpassam a forma de criar de Luana: o entendimento da obra como reza, como milagre, e do enferrujamento como dança do ferro, como sua forma de se movimentar; e também o interesse da artista por armadilhas. Sua obra está, como ela conta, entre a ideia de paciência e de violência.

Já Iagor Peres contou sua proposta de trazer à exposição do PIPA um trabalho cujo cerne fosse a invisibilidade, mas que não fosse um segredo. Assim, o artista pesquisou os fatores que explicitassem que a ideia de espaço é ilusória, e que as coisas estão conectadas: estes fatores seriam a ideia do calor, do som e da vibração. Elementos que caminham e se propagam em ondulações. O “Tremor”, então, consiste na instalação de um piso vibratório em que a pessoa pudesse chegar no espaço sem ter algo tão visualmente marcado, sem que a visão fosse a interlocução, e sim um trabalho que acontecesse na pessoa. No outro trabalho trazido pelo artista, “Espectro I”, Iagor utiliza a solda – um material reconhecido como algo que habita o entre das coisas – para construir o que ele chama de desenho, todo composto de solda sobre solda, revisitando a ideia de figura.

Em uma semana em que o Rio de Janeiro respira arte, com a realização da feira de arte ArtRio, e diversas mostras pela cidade, as exposições receberam uma grande visitação na abertura. Outras mostras inauguraram no Paço Imperial no mesmo dia as individuais dos artistas: Bruno Miguel, Claudia Jaguaribe e Marcus André.  Ao final do dia, o público e os artistas tiveram um momento de confraternização no pátio central do Paço Imperial.

Para saber mais sobre os Artistas Premiados, visite suas páginas e acompanhe os sites e as redes sociais do PIPA.

Todas as fotos da postagem foram feitas por Fabio Souza.

Prêmio PIPA 2023: Glicéria Tupinambá, Helô Sanvoy, Iagor Peres e Luana Vitra
Instituto PIPA: Aquisições Recentes

De 9 de setembro a 12 de novembro

Paço Imperial
Praça XV de Novembro, 48 Centro, Rio de Janeiro
Terça a domingo, das 12h às 18h
Entrada gratuita