Timboteua, PA, 1983. – Vive e trabalha em Belém, PA
Representado pela Periscópio Arte Contemporânea
Indicado ao PIPA 2015 e 2017Vencedor do PIPA Voto Popular 2017
Licenciado em Educação Artística – Artes Plásticas pela Universidade Federal do Pará, é pintor por ofício e desde 2004 desenvolve sua investigação artística na relação entre os temas retrato e identidade, tendo como objeto principal o homem amazônico.
Trabalhando em diversos suportes, como óleos sobre tela, intervenções, e site-specific, com esse tema realizou as exposições individuais Malerei – oder die Fotografie als Gewaltakt (Kunsthalle Lingen, Alemanha, 2016), Você é a Seta (Galeria Periscópio Arte Contemporânea, Belo Horizonte, 2016), Páginas Vermelhas (Galeria Blau Projects, São Paulo, 2015) e Alistamento (Galerias do Sesc em Belém, Ji-Paraná, Macapá, São Luís, 2015-2017), além de participar de exposições coletivas, entre elas Salão Arte Pará (Museu Casa das Onze Janelas, Belém, 2016), A Cor do Brasil (Museu de Arte do Rio, 2016), 31ª Bienal de Artes SP (Pavilhão Ciccillo Matarazzo, São Paulo, 2014) e suas itinerâncias em 2015 em Campinas (Sesc Campinas) e Portugal (Museu de Serralves) e Pororoca: A Amazônia no MAR (Museu de Arte do Rio, 2014).
Entre bolsas e premiações, destacam-se o Lingener Kunstpreis 2016 (Alemanha), Rede Nacional Funarte Artes Visuais (2015), Prêmio Seiva Projetos Artísticos (Fundação Cultural do Pará, 2015), Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais (2014), Prêmio SIM de Artes Visuais do Sistema Integrado de Museus (2008) e o 2º Grande Prêmio do Salão Arte Pará (2007).
Textos críticos
CONVERSA COM ÉDER OLIVEIRA, POR LUIZ CAMILLO OSORIO
Outubro de 2017
Gostaria de começar te perguntando sobre sua formação de artista. Ela se deu através de algum processo institucional ou foi autodidata?
Eu cheguei em Belém aos 18 anos. Antes – no vilarejo onde nasci e cresci – não tive qualquer contato com instituições culturais ou meios formais de acesso a códigos artísticos. O motivo da minha vinda foi cursar Educação Artística na UFPa. Lá, apesar de um curso de licenciatura, tive contato com diversas linguagens e tendo uma prévia aptidão ao desenho, optei pela pintura onde passei a criar uma forma própria de trabalhar a partir da prática e da observação de obras principalmente acadêmicas.
Você começou sua trajetória com o grafite? Como é para você este enfrentamento da rua e o que muda quando você vai para museus e galerias?
Devido a minha infância e adolescência no interior, nunca tive a chamada vivência de rua. O contato com grafite e street art veio devido à repercussão do trabalho de intervenção urbana – descrição adotada desde o inicio, resultado da pesquisa sobre o trabalho de outros artistas brasileiros na faculdade – onde esses artistas abraçaram o trabalho como sendo pertencente às linguagens urbanas e me interessou conhecer mais sobre o assunto. Hoje o respeito aos códigos dos artistas de rua é fundamental para minha ação, onde além da permissão do proprietário da parede, jamais uso uma superfície com alguma interferência de grafite ou pixação sem ter uma prévia permissão do autor. Como curiosidade, não sei usar spray e outras técnicas do grafite, a pintura de rua é baseada na reprodução, em grande escala, de uma pintura de cavalete. Ao contextualizar esse trabalho para apresentação em espaços institucionais, tento não reproduzi-lo como cópia, mas sim criar um novo trabalho a cada espaço, como um site specific. Além do gesto de trazer para o museu um extrato social normalmente excluido deste espaço ainda muito reservado a um público seleto, dominante dos códigos formais de arte e erudição, tento trazer ao espectador a ideia de efemeridade que a pintura sofre na rua, onde cada peça tende a ser apagada ao final do evento.
Quais foram/são suas principais influências como artista?
Todos os estudos para iniciar o trabalho partiram de reflexões sobre o retrato fotográfico, artistas e teóricos da fotografia sustentaram a discussão sobre identidade contida na minha pintura já que eu parto sempre de uma referência impressa. Para além da necessidade de tratar um determinado tema social a partir da estética do retrato contemporâneo, me inspirei bastante em alguns artistas contemporâneos que utilizavam ações e intervenções urbanas, mas sobretudo me inspirei nas apropriações fotográficas existentes no trabalho da Rosangela Rennó e na série “Sumaré”, do Alex Flemming, a partir dessas duas referências criei meus primeiros trabalhos.
Atuar na rua implica enfrentar o olhar em movimento e desatento. Atuar nos espaços institucionais implica enfrentar o olhar informado e atravessado de expectativas em relação ao que irá ver. Você concorda com essa distinção? Qual o mais difícil de ser mobilizado?
Concordo, o trabalho de arte posto na rua prevê um imediatismo de quem irá confrontá-lo, as cores vibrantes e as dimensões surgiram para dar conta dessa dinâmica, trabalhos expostos em espaços institucionais, sobretudo os feitos direto sobre parede, precisam criar mecanismos para justificar sua existência para além da reprodução, mas esse arcabouço não se dá por uma mudança na técnica de pintura e sim por seu próprio conteúdo. Indubitavelmente ainda é a imagem de um amazônida anônimo que, como pessoa, provavelmente não tem acesso a esses espaços, mas que, como pintura, é impossível passar despercebido. Esse simbolismo ainda é o que me instiga mais nessa apresentação e é onde tenho concentrado mais esforços.
Como a situação específica de Belém do Pará definiu o caminho do seu trabalho?
Quando cheguei a Belém, vindo do interior, me encantei pela cidade, sua beleza e seus problemas. Enquanto estudava na UFPa, eu habitava e vivia na periferia e uma mescla de valores construíram minha percepção sobre a vida urbana. Sem dúvida Belém é uma cidade impar em suas incoerências, a violência paralela à alegria e o acolhimento do povo, produziram em mim, assim como em outros artistas locais, uma indagação estética que se materializou de uma forma relativamente natural. Tratar a violência através do retrato me permite discutir minha própria existência nessa cidade.
Como você enxerga a articulação do local e do global na sua poética?
Ainda estou construindo minha percepção sobre o papel do meu trabalho no mundo. A reflexão sobre identidade é uma constante na arte, o que desenvolvo a partir dessa amostragem específica da população amazônica me permite discutir temas universais como pobreza, marginalidade, ética, o papel histórico do colonizado, etc. Esses temas não são específicos de Belém, mas, mesmo assim, mostrado na própria Amazônia, o trabalho traz suas particularidades. Quando foi exposto em uma cidade alemã suscitou uma reflexão no discurso do prefeito local sobre imigração, uma percepção parecida a que acontece em São Paulo, sendo que nesta também se soma a violência.
*Luiz Camillo Osorio é curador do Instituto PIPA, conselheiro e um dos idealizadores do Prêmio. É professor e atual diretor do Departamento de Filosofia da PUC-Rio. Foi curador do MAM-Rio entre 2009 e 2015.
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